TEXTO DE APOIO 3º TRIMESTRE DE 2018 LIÇÃO 1

Tópico 1 Sub tópico 1 CANONICIDADE


Autoridade das Escrituras

Jesus reconheceu o Antigo Testamento como a autoridade da Palavra de Deus. Era uma lei que não podia ser diminuída ou cancelada (Jo 10: 34-35). Ele se referiu às Escrituras ('Está escrito ...'; 'Você não leu ...') como uma autoridade absoluta contra a qual não poderia haver argumento (Mt 4: 4,7,10; 21:13, 16; 22: 29,31; Luc 16:17). Ele reivindicou a mesma autoridade absoluta para suas próprias palavras, pois ele era a Palavra viva de Deus (Mateus 24:35; Marcos 8:38; Jo 1: 14,18; 6:63; 7: 16-17; 12:48 -50).

Os escritores do Novo Testamento igualmente defenderam a autoridade absoluta das Escrituras (Atos 17: 2-3,11; Rom 1:17; 12:19; Gal 3: 10,13; 2Ti 3: 15-16; 1Pe 1:16) . Para eles, as Escrituras eram os "oráculos de Deus", a voz viva e autoritária de Deus (Rm 3: 2; Hb 5:12). O que as Escrituras disseram, Deus disse (cf. Gn 12: 3 com Gálatas 3: 8; cf. Êx 9:16 com Rm 9:17). Assim como a pregação dos profetas bíblicos foram proferidas revelações de Deus, os livros dos escritores bíblicos foram escritos revelações de Deus. De ambos era verdade dizer: 'Assim diz o Senhor' (Amo 1: 1-3; 3: 8,13; Miq 1: 1-2; 3: 8; Is 30: 8-9; Atos 11:28 13: 1-2; 1Co 14:37; 2Pe 1: 19-21; Rev 1: 1-3).

Durante a sua vida terrena, Jesus prometeu aos seus apóstolos que após o seu retorno ao Pai, o Espírito Santo viria a eles para lembrá-los do ensino de Jesus e dar-lhes mais ensinamentos (Jo 14: 25-26; 16: 13-15). . Eles deveriam passar este ensinamento àqueles que se tornaram cristãos (Mt 28: 19-20). Eles fizeram isso não apenas pregando, mas também colocando os ensinamentos de Jesus, e desenvolvimentos deles, em forma escrita. E eles reivindicaram para a pregação deles / delas e os escritos deles / delas a mesma autoridade como as Escrituras (1Co 2:13; Gl 1: 8; 1Th 2:13; 4: 2,15; 2Th 2:15; 3:14; 1Pe 1:12 2Pe 3: 2; Ap 22: 18-19).

Paulo e Pedro foram os dois escritores que falaram especificamente dos escritos do Antigo Testamento como sendo dados por Deus (2Tm 3:16; 2Pe 1:21). No entanto, ambos falam que os escritos do Novo Testamento têm a mesma autoridade que o Antigo Testamento.

Em 1 Timóteo 5:18 Paulo citou como "Escritura" uma declaração cuja primeira parte veio de Deuteronômio 25: 4 e cuja segunda parte veio de 10: 7, mostrando que ele considerava o Evangelho de Lucas como tendo igual autoridade com o Antigo Testamento. Da mesma forma, Pedro, em 2Pe 3: 15-16, agrupou os escritos de Paulo com "as outras Escrituras", mostrando que ele considerava que os escritos de Paulo tinham igual autoridade com o Antigo Testamento.

Tópico 1 Sub tópico 2 Gênero Literário.

A importância histórica do livro de Levítico é muito grande. Poder-se-ia também esperar compreender a história da Grécia, permanecendo na ignorância da filosofia e da arte, ou da Inglaterra, embora nada conhecendo do parlamento e da constituição para entender a história de Israel sem o conhecimento do ritual hebraico. Pense em quanto trabalho é gasto no estudo da mitologia clássica em nossas escolas e universidades, não por qualquer valor que haja em si, mas pela luz que lança sobre a literatura clássica; e, no entanto, quão pouco os cristãos percebem a importância de estudar os modos de adoração entre os judeus, a fim de entender sua literatura, que é a nossa Bíblia!

E além disso, não apenas o conhecimento da adoração do Tabernáculo é necessário para entender a literatura sagrada, mas é de valor real em si mesmo; não apenas de valor antiquário e psicológico, como as antigas mitologias, mas de valor prático atual, como lançar luz sobre o Novo Testamento e ilustrar o evangelho no qual nossas esperanças estão fundamentadas. Este livro de Levítico, como o próprio Tabernáculo, é áspero e pouco atrativo do lado de fora, e pode até mesmo provocar os escárnios dos meros transeuntes; mas tudo é glorioso por dentro, e àqueles que, com passos reverentes, entram em seu portal, não será desdobrada uma quantidade considerável das "riquezas inescrutáveis ​​de Cristo". Há as "peles duras" sem elas; mas dentro dela há a glória do ouro e a beleza do "linho retorcido fino, com azul, púrpura e escarlate, e querubins astuciosamente trabalhados". (J. M. Gibson, D. D.)

 

Tópico 1 Sub tópico 3 e sub tópico 4 -  Autoria e data.

A composição de Levítico, juntamente com outros livros do Pentateuco, era atribuída de modo uniforme pela tradição judaica a Moisés, o legislador de Israel. Por causa da maneira segundo a qual Cristo Se associava com o cumprimento da lei (cf. Mt 5:17), a igreja cristã primitiva também sustentava a autoria mosaica da Torá ou Lei, e esta ficou sendo a posição estabelecida do cristianismo. Durante o período medieval, houve alguns escritores que atacaram os pontos de vista ortodoxos no que diz respeito à autoria e data da matéria do Pentateuco. Dessa forma na Espanha no século X um certo Ibn Hazam de Córdoba, que na realidade era um aderente da fé islâmica, considerava que boa parte do Pentateuco, inclusive Levítico, foi composta por Esdras. Até mesmo o célebre exegeta espanhol do século XI, Ibn Ezra, sustentava que havia várias inserções posteriores no Pentateuco, embora ao mesmo tempo pudesse considerá-las compatíveis com a autoria mosaico.

Um indício daquilo que haveria de vir ocorreu no século XV, quando Andrea Bodenstein, um oponente de Martinho Lutero, sustentava que Moisés não poderia de modo algum ter composto sua própria passagem obituária em Deuteronômio 34, e argumentou, a partir daquela proposição, pela rejeição de Moisés como autor do Pentateuco inteiro,  visto que, para ele, o corpo inteiro de leis foi escrito no mesmo estilo geral que a notícia da morte de Moisés. No século seguinte, o filósofo deísta Thomas Hobbes sustentava que Moisés viveu alguns séculos antes do aparecimento da Torá na sua forma escrita, embora aceitasse a natureza genuína daquelas passagens atribuídas a Moisés no texto. Os conceitos de Ibn Ezra foram seguidos no século XVII por outro filósofo, Benedito Spinoza, que rejeitava a autoria mosaica do Pentateuco, considerando, pelo contrário, que era o resultado de um longo processo de compilação e redação por várias gerações de escribas.

Embora escritores anteriores tivessem mencionado a possibilidade de fontes pré-mosaicas subjazerem certas porções do Pentateuco, estes pontos de vista somente começaram a ser desenvolvidos no século XVIII, quando o crescimento da crítica literária apresentou um desafio sério aos conceitos mais tradicionais. Sem empregarem quaisquer critérios objetivos como orientação, vários escritores começaram a especular acerca da natureza e do conteúdo dos documentos supostos que alegadamente subjaziam o Pentateuco na sua forma definitiva. Este processo foi começado por um médico francês, Jean Astruc, que empregava Elohim e YHWH (Javé), dois dos nomes pelos quais Deus era conhecido no Pentateuco, como base da sua análise da matéria nas suas supostas fontes.
Embora Astruc tivesse consciência dos aspectos inadequados desta abordagem, mesmo assim, ganhou favor com outros estudiosos europeus de tendências liberais, que a empregaram nos seus estudos, totalmente sem criticá-la. Um dos resultados infelizes desta situação é que
o Pentateuco ficou sendo sujeitado, cada vez mais, à dissecação em fragmentos, à medida em que gerações sucessivas de estudiosos dividiam e subdividiam o texto, e atribuíam as seções resultantes ocasionalmente a uma vasta variedade de datas e compiladores. Já em 1805, quando J.S. Vater publicou um comentário sobre o Pentateuco que identificou um número da magnitude de quarenta fontes subjacentes separadas, muitos escritores crítico-literários já tinham começado a atribuir a forma final dos livros de Moisés ao período exílico, e a uma autoria diferente da de Moisés, que para muitos era, na melhor das hipóteses uma figura lendária.
No século XIX, Graf e Wellhausen adotaram os documentos sugeridos que se baseavam nos dois nomes de Deus, que tinham sido empregados como critérios para o reconhecimento das fontes, juntamente com matéria sacerdotal da qual Levítico formava uma parte relevante, com o acréscimo de Deuteronômio, como sendo as supostas origens "documentárias" do Pentateuco. À fonte "javista" foi atribuída uma data no século IX a.C., ao passo que o alegado documento em que ocorria o nome Elohim foi atribuído ao século VIII a.C. Pensava-se que Deuteronômio fora escrito nos tempos do rei Josias, que reinou de c. de 640 até 609 a.C., ao passo que Levítico e outras matérias sacerdotais eram datados no século V. a.C. Wellhausen sustinha que Levítico 17 - 26 foi acrescentado aos demais escritos sacerdotais um pouco depois do tempo de Ezequiel, ao passo que as demais passagens sacerdotais no "documento' eloísta foram acrescentadas por Esdras.
Não somente a fragmentação do Pentateuco em alegados "documentos" subjacentes destruiu a unidade básica da matéria narrativa, como também foi longe na direção de negar a  historicidade do autor atributivo. Os aderentes no século XX da teoria crítica-literária das origens pentateucais frequentemente consideravam que os começos de Israel estavam, na melhor das hipóteses, envoltos em mitos e lendas, ao passo que pessoas tais como Abraão e Moisés eram consideradas completamente não-históricas pelos críticos mais radicais.
Por mais positiva e benéfica para o estudo do Antigo Testamento que esta abordagem tenha parecido aos seus seguidores, era, na realidade, marcada por falhas sérias desde seu próprio início. Aqueles que deram início ao processo o fizeram com base em um conceito especulativo que passou, então, a ser desenvolvido conforme as melhores tradições do romantismo helénico. O fato de que nenhuma tentativa foi feita para testar as idéias em epígrafe, a qualquer altura, contra aquilo que se conhecia naquele tempo acerca das técnicas de composição que subjaziam a literatura antiga do Oriente Próximo não perturbou os proponentes da teoria. Pelo contrário, puseram-se a procurar qualquer coisa que pudesse servir de evidência para sua posição, e no decurso disto, negaram ou manipularam aquelas partes do texto hebraico que pareciam adversas a posição que estavam propondo.
Por infeliz que esta atitude tenha sido, revelou-se meramente sintomática da enfermidade maior. Em essência, o problema era de método, e a situação era tanto mais irônica porque os críticos literários do século XIX jactavam-se, de tempos em tempos, da natureza fundamentalmente "científica" dos seus trabalhos. Na realidade, a ideologia romantista que formava o sustentáculo das suas especulações era a própria antítese do método científico, seja conforme era conhecido no século XIX, seja no tempo presente.

Ao invés de utilizarem a abordagem a priori aos problemas do Antigo Testamento, mediante a qual consequências deduzidas eram tiradas de princípios ou proposições pressupostos, os investigadores críticos-literários deveriam ter começado com os dados objetivos existentes e feito um esforço para ver se transmitiam significado realístico ao serem interpretados nos seus próprios termos. Se os dados não faziam sentido àquela altura, a busca deveria ter sido abandonada quando mais testes confirmavam a resposta inicial.
Se, porém, os dados fossem passíveis da interpretação racional, deveriam, então, ter sido comparados com outras evidências relevantes, preferivelmente de natureza objetiva, tal como matéria arqueológica e, com base nas conclusões, alguma hipótese tentativa poderia ter sido proposta e considerada sujeita à modificação ou à rejeição à luz da evidência objetiva subsequente. Depois de ainda mais testes rigorosos dentro do âmbito doutros dados relevantes, que muito bem poderiam ter resultado na modificação severa ou no abandono de parte do empreendimento, ou da totalidade dele, qualquer progresso adicional poderia possivelmente ter avançado na direção de uma hipótese de trabalho.
Este método a posteriori de examinar e explicar dados já estava em uso generalizado no século XIX, e tinha sucesso como uma ferramenta de investigação, porque argumentava dos dados para um meio possível de explicar sua incidência. Numa série de descobertas brilhantes, o químico russo Dmitri Ivanovich Mendeleev (1834-1907) empregou esta abordagem para classificar os elementos em "famílias" caracterizadas por propriedades semelhantes. Já em 1871, cerca de seis anos antes de Wellhausen publicar sua obra sobre a composição do Hexateuco, Mendeleev tinha disposto os elementos conhecidos em forma tabular de acordo com seus pesos atômicos e os organizara numa ordem preliminar de"família." Com base neste conhecimento, conseguiu predizer a existência de elementos ainda não descobertos nos dias dele, e localizá-los com perfeita exatidão na sua tabela periódica de elementos.3 Se os críticos literários contemporâneos tivessem sido verdadeiramente científicos no seu método, teriam feito um esforço no sentido de descobrir precisamente como os documentos do Oriente Próximo antigo eram compilados e transmitidos, ao invés de asseverar que um nome específico de Deus era um critério para a análise literária, independentemente de outros critérios, reunindo todos os versículos que utilizavam aquele nome num "documento," quer o resultado final fizesse sentido, quer não. 
Com uma confiança que era inteiramente injustificada até mesmo à luz daquilo que então era sabido acerca da cultura antiga do Oriente Próximo, Wellhausen proclamou que instituições históricas tais como o tabernáculo vinham de um período avançado da história hebraica. Sob a influência da filosofia evolucionária hegeliana, Wellhausen reescreveu a história religiosa dos israelitas de tal maneira que substituiu o monoteísmo das narrativas de Gênesis por uma forma animista de religião, que somente depois de um período prolongado de tempo emergiu como monoteísmo ético. A fim de levar a efeito esta inversão da tradição vétero-testamentária, era necessário para Wellhausen dar-se o trabalho de fazer uma redisposição em grande escala das sequências cronológicas conforme são apresentadas pelo Antigo Testamento. Por meio de considerar as origens literárias que descreviam a vida e a religião patriarcais como sendo completamente destituídas de historicidade, e por meio de atribuir a origem da fé monoteísta à obra dos profetas ao invés de atribuí-la à revelação divina no período patriarcal, conseguiu apresentar uma reconstrução dos eventos em que obras tais como Levítico apareciam no fim, e não no começo da história nacional de Israel.
O fato de que este tipo de estudo super impôs uma estrutura ideológica altamente subjetiva sobre a narrativa hebraica antiga, que sufocava, de modo geral, a evidência histórica que tinha de apresentar, parecia não ser uma preocupação pára Wellhausen e seus seguidores, que come­çaram a aplicar a abordagem crítica-literária ao resto do Antigo Testamento, com grande entusiasmo. Ao assim fazer, revelaram a fraqueza mais séria de todas, ao considerar como "científico" aquilo que era, na realidade, um procedimento inteiramente subjetivo e arbitrário, seguido sem apelo algum a controles objetivos.
Quando as descobertas arqueológicas começaram a demonstrar a existência da adoração "monoteísta" entre os mesopotâmios pagãos do quarto milênio a.C., e a aduzir evidência pela antiguidade de santuários portáteis tais como o tabernáculo, tomou-se evidente que a reconstru­ção feita por Wellhausen da história hebraica estava, na realidade, crivada com graves deficiências. Embora os estudiosos liberais se achassem comprometidos com a teoria dele das origens pentateucais, debatiam-se cada vez mais sob o defeito aleijante de "documentos" datados de modo arbitrário, cuja existência nunca foi demonstrada de qualquer maneira que fosse.
Para evitar a dificuldade, certos estudiosos escandinávios começaram a desconsiderar os "documentos escritos" como tais, e esposaram, ao invés disto, a ideia de uma tradição oral fidedigna, transmitida no decurso de muitos séculos e finalmente fixa numa forma escrita. Infelizmente para este ponto de vista, surgiram dois problemas sérios. O primeiro foi que os escandinávios pressupuseram que a tradição oral do Oriente Próximo servia na ausência de uma forma escrita anterior daquela tradição, conforme era o caso na Europa. Como os welhausenianos antes deles, não levaram em conta a evidência fornecida pelas descobertas arqueológicas, e isto teve o efeito infeliz de modificar muito seriamente a relevância da sua abordagem. Neste assunto, agora sabe-se que na antiguidade versões escritas e orais de todas as ocorrências importantes eram promulgadas ao mesmo tempo. A forma escrita normalmente consistia em um registro oficial, seja ele uma inscrição, um monumento, ou uma parte dos anais da corte para o ano específico em que o evento ocorreu. A versão oral era para a disseminação local, e, a partir de então, podia ser incluída na tradição popular ou familiar. Esta era muito diferente da situação europeia, onde as formas escritas e orais não existiam lado a lado.
A segunda dificuldade principal para esta abordagem foi que, no fim, as unidades da tradição oral chegaram perigosamente perto de adquirir a qualidade fixa dos "documentos" que tinham sido propostos por Wellhausen e seus precursores, situação esta que dificilmente poderia ser considerada um passo para a frente do pensamento crítico. A abordagem ao estudo do Antigo Testamento conhecida como crítica da forma esforça-se para isolar unidades específicas de matéria em termos da sua forma, ao invés de concentrar-se nos documentos como tais.
Uma vez que a forma tenha sido isolada, o crítico passa então a perguntar acerca de coisas tais como seu uso, o contexto cultural em que se encaixava, e o propósito da matéria.4 Levítico claramente está composto de passagens rituais e legislativas que serviam um propósito cultual e regulatório fundamental na vida dos israelitas antigos. Os quinze primeiros capítulos exibem uma estrutura distintiva, e parecem ter sido compilados de tal maneira que capacitariam os sacerdotes a decorá-los bem prontamente. De modo semelhante, a matéria que diz respeito à cerimonia da Páscoa é uma unidade sem igual e facilmente identificável de caráter litúrgico, obviamente visando o uso cultual. Os estatutos e a matéria social correlata dos capítulos finais podem ser reconhecidos sem dificuldade pela sua forma, e avaliados em termos das suas implicações para a ocupação sedentária de Canaã.
A análise tradicional-histórica procura investigar a natureza do grupo que transmitiu a tradição específica sendo estudada, a localidade com que era associada, a situação vivencial da qual a tradição emergiu, e o modo em que temas específicos vieram a ser formulados.5 Esta abordagem depende extensivamente da suposta precedência da tradição oral sobre a escrita, embora seja sabido agora que as duas formas coexistiam para todas as matérias importantes do Oriente Próximo antigo.6 A análise da tradição consideraria que Levítico emergiu de círculos sacerdotais que transmitiram em forma oral as tradições que diziam respeito aos sacrifí­cios, ao cuidado do santuário, e ao procedimento geral dos sacerdotes.
Embora a antiguidade dos círculos sacerdotais vétero-testamentários e das suas tradições tenha sido demonstrada de fontes arqueológicas e outras,7 a análise tradicional-histórica ainda considera a forma literária da matéria como sendo de data avançada e não recuada, de acordo com a posição geral de Wellhausen. Uma das desvantagens deste tipo de abordagem é que a criatividade individual é depreciada, senão completamente negada, a despeito do fato de que certo número de composições vétero-testamentários exibam indicações distintivas da individualidade da autoria. Outra desvantagem é que os resultados de semelhante investigação podem ser preditos com exatidão razoável quando se sabe que o processo é baseado em pressuposições subjetivas tais como a natureza não-histórica de boa parte de matéria bíblica primitiva, ou a pressuposi­ção de que a forma final de muitos escritos do Antigo Testamento era, de modo geral, comparativamente recente e não antiga. Visto que os dois métodos discutidos supra são pesadamente influenciados pelo pensarnento humanista europeu do século XIX, terão valor limitado para a erudição bíblica na sua totalidade até que sejam integrados num método científico de estudo apropriadamente reconhecido.
Embora os estudiosos liberais modernos ainda empreguem a designação antiga wellhausiana dos supostos "documentos," muitos deles chegaram a considerar estes últimos como sendo a forma fixa de tradi­ções que tinham estado correntes durante muitos séculos. Além disto, as diferenças de estilo e de conteúdo que antigamente eram tão geralmente apresentadas como critérios para o reconhecimento das "fontes" documentárias têm sido consideravelmente reduzidas por causa do reconhecimento que os supostos "documentos" eloístas e javistas representam a mesma tradição fundamental mosaica.
Até mesmo o "documento" sacerdotal, considerado por Welhausen como sendo a mais recente das fontes pentateucais, e, portanto, menos fidedigno que seus antecessores, agora é reconhecido como registro cuidadosamente conservado de eventos e procedimentos. Este é especialmente o caso de Levítico, que contém certo número de aspectos muito antigos.
Descobertas modernas têm demonstrado que a matéria sacerdotal do Oriente Próximo é quase sempre de data recuada e não avançada, e que as tradições sacerdotais usualmente são conservadas de modo meticuloso. Atribuir, portanto, um documento sacerdotal tal como Levítico a uma data avançada é ir totalmente contra as tradições literárias do Oriente Próximo antigo. Além disto, não fica claro ao presente escritor como matéria que é obviamente antiga na sua natureza, e que foi sujeitada a processos de transmissão sacerdotal possa ser considerada comparativamente recente na sua forma final, especialmente se a transmissão oral realmente a conservou acuradamente. Esta anomalia merece certa aten­ção da parte daqueles que sustentam a tradição welhausiana numa forma ou noutra.
Tendo em vista estas considerações, a conclusão mais lógica acerca da autoria e da data seria reconhecer a antigüidade e a autenticidade de Levítico, e considerá-lo uma produção literária genuína do segundo milênio a.C., compilada por Moisés, com a provável assistência de escribas sacerdotais. Deve ser notado, naturalmente, que ninguém é mencionado pelo nome, de modo direto, como sendo o autor de seções especí­ficas, diferentemente do livro de Êxodo (cf. Êx 17:14; 24:4; 34:27).
Ao mesmo tempo, Levítico inclui matéria que formava parte da revela­ção de Sinai (cf. Lv 7:37-38; 26:46; 27:34), que Moisés indubitavelmente registraria subsequentemente. Está dentro do âmbito da possibilidade que um editor ou escriba de uma geração posterior pudesse ter disposto a matéria mosaica de Levítico na sua presente ordem. Ainda mais provável, no entanto, é que a legislação fosse organizada na sua forma atualmente existente nos tempos de Moisés, visto que a matéria era necessária naquela ocasião como manual para procedimentos sacerdotais.
Instituições distintivas tais como o dia da expiação e as estações sagradas, que tinham de ser observadas, desenvolveram-se diretamente das experiências históricas de Israel, e devem obviamente ter recebido legislação no tempo da sua ocorrência, e não muitos séculos mais tarde.
Que estes estatutos existiriam na forma escrita numa etapa primitiva e não posterior no desenvolvimento da vida nacional de Israel está totalmente consistente com aquilo que agora se conhece das tradi­ções sacerdotais do Oriente Próximo antigo. Parece haver pouca evidência de atualização escribal da terminologia antiga em Levítico, e isto, mais uma vez, é típico do conservadorismo sacerdotal, especialmente conforme é exibido entre os sumerianos. Uma vista panorâmica de Levítico como um todo dentro da situação histórica cultural da Idade de Bronze Posterior demonstra que a maioria das seções do livro tem paralelos nos escritos contemporâneos ou anteriores do Oriente Próximo.
Este fato pode ser ilustrado ao referir-se às ofertas de cereais e pacíficas, que eram algo semelhantes àquelas que se achavam em Ras Shamra (Ugarite), ao passo que as ofertas votivas eram bem conhecidas no Oriente Próximo. No ponto de vista do presente autor não há nenhum único elemento em Levítico que não poderia ter sido conhecido a Moisés, ou que requer uma data posterior ao fim do período de Amama (séculos XV e XIV a.C.).
Conforme 2 Reis 17:24-28, a adoração organizada entre os mesopotâmios que tinham sido trazidos a Samaria como colonos começou nos tempos de Esar-Hadom (681-669 a.C.). Estas pessoas fizeram casamentos mistos com as mulheres israelitas que permaneceram na área (cf. Jr 41:5) e a mescla resultante formou a base do povo que veio a ser conhecido como os samaritanos. Visto que este grupo, por tradição uniforme, empregava o Pentateuco exclusivamente como fonte da sua doutrina e adoração, os livros da lei pelos quais foram instruídos devem ter tido algo perto da sua forma final em fins do século VIII ou no começo do século VE a.C. A recensão sectária samaritana parece ter sido feita cerca de 110 a.C. segundo Purvis,8 mas seu ancestral textual, que também é considerado como aquele de onde surgiu a LXX, remonta a um tempo consideravelmente mais cedo, talvez ao século VI a.C. F. M Cross deu a designação de "Recensão Palestiniana Antiga"9 à seção do pentateuco, e, a partir de evidências internas, nomes e lugares, chegou à conclusão que esta recensão foi levada ao Egito no século V a.C. onde, após alguma revisão, finalmente ficou sendo o texto do qual foi feita a LXX. Cross fez a conjectura adicional que o tipo de texto "palestiniano antigo" emergiu de matéria que tinha estado na posse dos exilados na Babilônia. Tendo em vista o conteúdo altamente restrito do cânon samaritano e a ênfase dada pela seita a tais ritos centrais como a páscoa, é difícil acreditar que sabiam pouca coisa, ou nada, no período de EsarHadom, acerca da existência ou o conteúdo de um livro com orientação cultual tal como Levítico, contrariamente às pressuposições da teoria de Graf-Wellhau sen.
Não é necessário dizer que os samaritanos têm sua própria teoria das origens literárias, alegando que seu manuscrito bíblico mais antigo remontava ao tempo de Abisua, o bisneto de Arão (1 Cr 6:3-4). Embora se trate obviamente de um exagero, assim como são exageros outras alegações samaritanas, sua tradição claramente apoia a existência de Leví­tico numa forma escrita num tempo muito anterior àquele que é concedido pela erudição liberal. 

(LEVITICO Introdução e Comentário - Roland K. Harrison   pag 13-22)

 

Tópico 2 sub tópico 1 - Purificar Israel das abominações do Egito.

Moisés não precisa que Arão ou seus filhos o ajudem nas instruções deste capítulo. O legislador deve falar diretamente com os filhos de Israel ou seus representantes sobre o que ele tem a dizer em relação à sua conduta moral e felicidade pessoal. É de real interesse notar que a frase enfática "Eu sou o Senhor teu Deus" é usada três vezes neste capítulo (Levítico 18: 1; Lv 18: 4; Lv 18:30) e apenas uma outra vez em todo o livro (Levítico 11:44). Isso fala para uma necessidade muito profunda. Não podemos ter comunhão com Deus, em cuja imagem somos criados, se nos satisfazemos ou servirmos às concupiscências da carne. Nós não podemos e não o conheceremos pessoalmente até que estejamos dispostos a nos submeter ao seu modo de vida. Os egípcios percorreram o caminho da promiscuidade sexual - a "escravidão da liberdade", que sempre foi o fruto de tal escolha. Que amargo jugo de escravidão essa "liberdade" sempre proporcionou! Estranho dizer que o homem tem apenas uma escolha: qual mestre você terá? Deus também oferece um relacionamento de "liberdade de escravidão", mas seu jugo é fácil e seu fardo é leve, ou seja, quando comparado com o dos egípcios ou cananeus. O "escravo do espírito" é sempre mais feliz que o "escravo do corpo" porque somos criados à imagem de um espírito e não de um animal. Nossa natureza essencial é espírito, não carne. Anda em meus estatutos e você terá vida, não morte - paz, não frustração  <=> é a mensagem de Lv. 18:5

Tópico 2 sub tópico 2 - Preservar Israel das iniquidades de Canaã.

Alguns pseudomoralistas têm procurado encontrar, no decreto divino de extermínio dos povos cananeus, uma grave ofensa à. moral ou ao direito dos povos. Têm chegado a dizer que, se Jeová de fato existe, Ele cometeu grave falta em destruir estas gentes. Mas, vejamos. A Palestina estava no meio do caminho entre o centro da civilização caldaica e da egípcia. Era o caminho forçado entre estes dois grandes centros, devido à dificuldade de comunicação pelo deserto, não só pelos extensos desertos sem sombra, mas pela falta dágua e outras necessidades aos caminhantes. Assim, todas as caravanas que vinham vender suas especiarias orientais no Egito, seu principal mercado, tinham de subir a encosta do Eufrates, para depois tomarem a estrada de Hamate, na Síria, descendo pela Palestina, até o Egito. A passagem de todas as caravanas, correios e demais viajores, entre o centro caldeu e egípcio, por entre os povos cananeus, era uma ameaça à civilização. Povos de organização rudimentar, sem governo centralizado, quase sempre sob o domínio de outros grandes povos, como os hiteus ou os egípcios, portanto, sem projeção social ou política, corroídos por todos os vícios e pecados, sua existência era contraproducente. Um povo não dura mais do que sua utilidade a outros povos. Qualquer estudante medíocre da História poderá fazer a filosofia da História mesma sob este aspecto. Sodoma e Gomorra e outras cidades centrais da Palestina tinham desaparecido como um sinal de desaprovação divina a todos os seus crimes e pecados. Do mesmo modo desapareceram outros povos antigos e modernos e desaparecerão os atuais, quando sua existência se tornar uma ameaça à moral. Assim como o pecado destrói o indivíduo, destrói também os povos. O princípio é o mesmo. Portanto, se há necessidade de julgar perfeitamente moral a determinação de destruir os povos cananeus, tal julgamento enquadra-se perfeitamente entre todos os estatutos que governam os povos. Não é demais insistir que "do Senhor é a terra e a sua plenitude" (Sal. 24:1).

TÓPICO 3 - O MANUAL DO SACERDOTE.

Um ministro devidamente autorizado, para oficiar perante uma divindade, em favor de um povo e tomar parte em outros ritos chama-se sacerdote. A função essencial a seu cargo era a de mediador entre Deus e o homem. Em geral, formavam os sacerdotes uma classe de funcionários muito distinta entre as nações da antigüidade, como no Egito, em Midiã na Filístia, na Grécia, em Roma, etc. Gn 47: 22; Ex 2: 16; 1 Sm 6: 2; At 14: 13. Na falta de uma corporação regularmente organizada, o ofício de sacerdote era exercido desde tempos memoriais, por indivíduos particulares, tais como, Caim e Abel; pelos patriarcas em favor de suas famílias; ou da tribo, como Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Jó, bem assim os chefes de uma corporação, ou de um povo. No tempo do êxodo havia indivíduos destas prerrogativas por direito natural, por causa da crescente necessidade do momento, em conseqüência do aumento da população e das influências do sacerdócio egípcio, Ex 19: 22. Mesmo depois de organizado o sacerdócio levítico, homens havia que, fora desta corporação, também exerciam as funções de sacerdote. Quando Deus mesmo dispensava a medição dos sacerdotes ordenados, e se revelava imediatamente a um indivíduo estranho à corporação sacerdotal, tal pessoa sentia-se no direito de oferecer sacrifícios, sem que fosse necessária a intervenção dos mediadores regularmente ordenados, Jz 6: 18, 24, 26; 13: 16. Quando, por motivos políticos, tornava-se impossível aos que habitavam no reino do norte, utilizarem-se do ministério dos sacerdotes levíticos o pai de família, ou outra pessoa indicada, de acordo com a lei primitiva, levantava o altar e oferecia sacrifícios a Jeová, 1 Rs 18: 30.

Quando o povo hebreu se organizou em nação no Sinai, levantou-se o tabernáculo e o servo do santuário foi organizado de acordo com a dignidade de Jeová de modo a não ficar devendo nada às mais cultas nações da antigüidade. Daí nasceu a necessidade de um corpo sacerdotal. Arão e seus filhos foram designados para este cargo que se perpetuou na família, e a ela restringido, Ex 28: 1; 40: 12-15; Nm 16: 40; cp. 17 e 18: 1-18; cp. Dt 10: 6; 1 Rs 8: 4; Ed 2: 36 e seg. Todos os filhos de Arão eram sacerdotes, salvo nos casos de deformidades físicas, Lv 21: 16 e seg. Quando a Escritura se refere à classe sacerdotal, emprega as expressões - sacerdotes, ou filhos de Arão, aludindo à descendência deste sacerdote, 1: 5; 2 Cr 26: 18; 29: 21; 35: 14; cp. Nm 3: 3; 10: 8; Js 21: 19; Ne 10: 38, ou sacerdote da linhagem de Levi, aludindo à tribo a que pertenciam, Dt 17: 9, 18; 18: 1; Js 3: 3; 8: 33; 2 Cr 23: 18; 30: 27; Jr 33: 18, 21; cp. Ex 38: 21, ou ainda como sacerdotes e levitas, filhos de Sadoque, designando o ramo da família de que descendiam, Ez 44: 15; cp. 43: 19. Este modo de referir-se à classe dos sacerdotes, como acabamos de ver nas passagens citadas, era muito comum no tempo em que se fazia questão fechada em distinguir as funções dos sacerdotes e dos levitas, como se vê na história em que os ministros do altar no tabernáculo e no templo, e aqueles que traziam o Urim e Turim, também pertenciam à família de Arão.

As obrigações dos sacerdotes eram, em geral, de três categorias: Ministrar no santuário diante do Senhor, ensinar o povo a guardar a lei de Deus e tomar conhecimento da vontade divina, consultando o Urim e Turim, Ex 28: 30; Ed 2: 63; Nm 16: 40; 18: 5; 2 Cr 15: 3; Jr 18: 18; Ez 7: 26; Mq 3: 11. O sacerdote estava sujeito a leis especiais, Lv 10: 8 e seg. Em referência ao casamento, só poderia tomar mulher que fosse de sua própria nação, mulher virgem ou viúva, que não fosse divorciada, e cuja genealogia fosse tão regular como a dos próprios sacerdotes, 21: 7; Ed 10: 18, 1:; cont. Apiom. 1: 7. As vestimentas consistiam de calções curtos desde os rins até às coxas; uma camisa estreita, tecida de alto a baixo e sem costura, descendo até aos artelhos e apertada na cinta por um cíngulo bordado, simbolicamente ornamentado; uma tiara em forma cônica, tudo feito de linho fino e branco, Ex 28: 40-42; Antig. 3: 7, 1-3. Os sacerdotes e outros oficiais de serviço religioso costumavam vestir um éfode de linho, sem bordados e sem os adornos custosos como o que usava o sumo sacerdote, 1 Sm 2: 18; 22: 18; 2 Sm 4: 14.

Por ocasião da conquista de Canaã, atendendo às necessidades atuais dos descendentes de Arão, que sem dúvida já estavam na terceira geração, porém mais especialmente em atenção às necessidades futuras, separaram-se treze cidades para sua residência e criação de seus gados, Js 21: 10-19. Davi dividiu os sacerdotes em vinte e quatro classes. Exceto por ocasião das grandes festividades em que todos eles tinham de oficiar, cada uma das classes oficiava uma semana de cada vez, substituída em cada sábado de tarde, antes do sacrifício, 1 Cr 24: 1-19; 2 Rs 11: 5-9; antig. 7: 14, 7. Parece que destas vinte e quatro classes, somente quatro voltaram de Babilônia com Zorobabel, Ed 2: 36-38, porém, o antigo número foi reconstruído, segundo parece, Cp. Lc 1: 5-9. Havia distinções no corpo sacerdotal. O supremo pontífice era o sumo sacerdote; seguia-se o segundo sacerdote, 2 Rs 25: 18, que provavelmente era denominado o pontífice da casa de Deus, 2 Cr 31: 13; Ne 11: 11, e o magistrado do templo, At 4: 1; 5: 24. Os pontífices de que fala o Novo Testamento eram os sumos sacerdotes, membros da família dos antigos sacerdotes e funcionavam irregularmente. A lei que regulava o acesso às funções do sumo sacerdócio havia caído envolvido em consequência das perturbações políticas e do domínio estrangeiro. Os pontífices eram investidos em seu ofício ou dele despojados à mercê dos governos dominantes.

LEANDRO DI PAULA
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